quinta-feira, 3 de abril de 2008

Mude

E então eu levei bem a sério aquele poema do Edson Marques que os parentes da Clarisse Lispector tentaram surrupiar.
Procurei por um mês inteiro de visitas incessantes e pessoas com "papelada na frente", lixões e apartamentos de sonhos, até que, finalmente, achei um com a minha cara, e o melhor: cheguei primeiro. Adoro chegar primeiro. Desde criança. É um prazer meio inconsciente, assim. "Eu ia sentar aí nessa cadeira - Cheguei primeiro.; Esse é o último pedaço de pizza! - Cheguei primeiro.; Gosto daquele cara - Cheguei primeiro.", enfim. Eu cheguei primeiro e aluguei o apartamentinho com cara-de-casa-de-boneca-com-varandinha-e-tudo, e pra lá irei amanhã. Irei, não: iremos. Tequila e eu. Passei uma semana bem atarefada, veja bem. Com idas em imobiliária, cartório, supermercados e até mesmo na sala de um investigador de polícia no Detran. Encaixotando pratos, copos, luminárias, livros, cadernos e mais ou menos um milhão e meio de lembranças de 2 anos felizes e muito bem vividos aqui nesse apartamentinho na Vila Mariana. Ló, eu, Teca e visitas incessantes de ambos os lados, mantendo o lugar sempre muito arejado e visitado. Palco de bebedeiras, choradeiras e noites em claro por conta do PGE. De mau humor e piadas, e de muita, muita amizade mesmo.
Essa é a última noite aqui e eu estou com um vestígio de dor no coração. Tõ tão acostumada! Tequila tá tão acostumada! Tudo aqui é grande e gostoso, adoro meu quarto e a disposição dos móveis, adoro como a TV fica exatamente direcionada pra quem está no computador e adoro como a cama permite que se assista milhões de DVDs na tela de 17" do monitor.
Adoro a cor das paredes, adoro tudo branquinho. O apartamento novo tem muitas cores, tem um banheiro pequenino e azul e eu tenho medo. A rua tem nome de tribo de índio, e eu acho que gosto mais do Humberto I, seja ele quem for. O Humberto tem nome de personagem da turma da Mônica, e eu adoro a turma da Mônica. E o Humberto fica pertinho da ESPM, e da pet shop que a Teca conhece desde filhote e de todas as lembranças da Vila que eu tenho desde que me conheço por paulistana! E agora vou pra um bairrozinho esnobe de nome indígena.
Emburrei. Não vou mais. Não iria. Não fosse o fato de todas as minhas coisas estarem lá, já. E lá tem piscina, e andar alto. E lá tem garagem. E lá vai ser só meu e da Teca.

"Compre pão em outra padaria."

Comprarei, Edson.

2 comentários:

Sr. D disse...

ahahaha. E quando eu falei sobre isso eu ouvi um esnobe "eu tô acostumada a não me apegar"

Anônimo disse...

Hum... Gostei e não gostei!
Gostei do 1 milhão e meio de lembranças, e choradeiras, risadas e etc mas não gostei do "só meu e da Teca". Qual o problema de dividir comigo? Hunf.
Sei que isso daria uma discussão de horas de que isso não tem nada a ver comigo, e etc, mas quem melhor que você pra me conhecer e saber qu eu faço drama? `Principalmente se for sequer imaginar, por 1 segundinho que seja, que vai deixar de ser minha irmãzinha do coração.
E "acostumada a não se apegar" é o seu cu!
E tenho dito!